3 de fevereiro de 2010

O RIO IPANEMA E A ONÇA-DE-BODE




Um amarelo descia uma das ladeiras do Panema assoviando esta modinha para ver se descobria no meio das carrapateiras uma amarela dos beiços de fulô. Ou, quem sabe, esse amarelo quisesse só assobiar:


HELENA TENS UMA ISCA FORTE

Eu me encontrei com Helena
Ela igual a da guerra de Tróia
Plantada na porta do cinema
E olhares cheios de tramóias
Helena vem vamos falar agora
O que está escrito está escrito
Já bebi cachaça em pote e pote
Já bebi cachaça em litro e litro
Se é pra beber cachaça Helena
Eu bebo até em seus cambitos

HELENA TENS UMA ISCA FORTE



Continuou o amarelo descendo as ladeiras de acesso ao rio Ipanema como se caçasse o que fazer, quando se deparou com Ona-de-bode. E a paisagem perdeu a coloração. As três irmãs de Helena, a menina e o cão Preguiça, a areia do rio, o mato em volta e a tripa de rio que espelhava o céu novamente sem nuvens desde a última seca ficaram em branco e preto. As bacias de plástico compradas na feira de rua na frente da Matriz Senhora Santana se descoloriram ao ronco da Onça-de-bode.


Estava a onça-de-bode se esquivando na vegetação que margeia o rio Ipanema. Toda prosa. Ela própria tinha o poder de se encantar, o poder em transformar a paisagem de colorida em preto e branca, um poder enigmático em assustar outros seres e se quisesse se invultar em outro bicho. A onça-de-bode, comum nas cercanias de Santana do Ipanema, AL, olhou o dia e ouviu o canto da acauã.